sábado, 18 de junho de 2011

A "geração seguinte"

"Como escolher uma pessoa? Como fazê-lo quando o país, uma empresa ou uma vida depende dessa escolha? Como conseguir distinguir uns de outros quando o talento, a sedução, a inteligência ou a ponderação parecem seguros? Talvez o melhor seja optar por observar os defeitos e esquecer as virtudes - é que estas esvoaçam enquanto os defeitos agudizam-se."
Luis Osório




"(...)Com este Governo, a minha geração (nasci no mesmo ano de José Sócrates e de Marques Mendes) passa a pasta à geração seguinte."




"Ora vamos lá fazer uma primeira apreciação do novo Governo…
Este Governo surpreendeu. No totoloto dos ministros há números em que ninguém apostava. Isso é bom ou mau? Depois de olhar para a chave final, confesso que gosto das surpresas. Mais do que das confirmações. As duas principais surpresas surgiram no núcleo económico do Governo. Vitor Gaspar nas Finanças e Álvaro Santos Pereira na Economia. Gosto de ambas. Todas as expectativas concentravam-se na pasta das Finanças. Falou-se de Eduardo Catroga, de Vitor Bento, de Carlos Costa… Não se falou, e devia ter-se falado, de Vitor Gaspar. Mais novo, menos experiente em cargos de gestão, tem mesmo assim um currículo impressionante, fortes credenciais liberais e ideias muito claras sobre o que é preciso fazer. Aposto que vai ser uma excelente surpresa e é a primeira prova de que este é mesmo um Governo de mudança. Para a Economia vai outra pessoa com ideias muito claras e, o que se saúda, bem sustentadas pela sua presença no debate público. O ministério é gigantesco e Álvaro Santos Pereira não tem experiência de gestão. Aqui tenho de colocar um grande ponto de interrogação. Estes dois ministros podem não ter o peso de alguns dos nomes com que se especulou – mas merecem o benefício da dúvida. Podem surpreender. Julgo que vão surpreender, e pela positiva. Gosto igualmente das surpresas na Saúde e na Educação. Paulo Macedo é um grande, grande gestor, que já fez milagres quando passou pela Direcção-Geral de Impostos, que já trabalhou com gestor na área da Saúde e que sabe que as prioridades são financeiras. Não é médico, e ainda bem. Já Nuno Crato (declaração de interesses: sou seu amigo há mais de 35 anos) tem as ideias correctas sobre o que é necessário fazer na Educação e, tal como Santos Pereira, passou anos e anos a publicitar as suas ideias. É mais político do que se pensa, veremos como vai ser capaz de gerir uma das pastas mais difíceis de qualquer Governo. A sua escolha é outra prova de que este Governo é de mudança. Temos, depois, os ministros mais políticos. Passos Coelho e Paulo Portas trouxeram os seus núcleos duros. Gosto mais de uns (como Assunção Cristas) do que de outros (como Miguel Relvas), mas compreendo que se tenha querido ter no governo ministros muito políticos. É que este também será um Governo de combate. Também por isso vou dar o benefício da dúvida a Paula Teixeira da Cruz, com quem não simpatizo especialmente, mas que é uma mulher conhecida por cortar a direito, e se há área onde é preciso ter nervos de aço e não ceder a interesses particulares, essa área é a da Justiça. Gostei, também, que se tivesse conseguido fazer um Governo só com onze ministros, o mais pequeno desde o 25 de Abril (antes o mais pequeno fora o primeiro de Cavaco Silva, com treze ministros). É uma promessa (quase) cumprida e um bom sinal de contenção. Fico, porém, na expectativa relativamente à escolha dos secretários de Estado. Porque eles devem ser da confiança dos respectivos ministros, mais do que dos partidos da coligação. E Porque nalguns ministérios, os mais extensos e complexos, os ministros terão de se apoiar em bons secretários de Estado, gente com qualidade de ministros. Dos três nomes já conhecidos, dois são bons (Adjunto e da Presidência) e um é popular (Cultura). Por fim devo dizer que sinto que, com este Governo, a minha geração (nasci no mesmo ano de José Sócrates e de Marques Mendes) passa a pasta à geração seguinte. Ainda bem, pois bem podemos limpar as mãos à parede. Talvez seja também por isso que prefiro um Governo que não carrega culpas e chega com a frescura de algum idealismo a um Governo carregado de gente experiente por ter, de uma forma ou outra, participados nos erros dos últimos anos ou mesmo décadas. Sei que custa aos mais velhos acreditar nos mais novos (o que para aí tenho ouvido de comentários “instalados” até arrepia), mas sempre achei que risco assim vale a pena correr. Só espero que resulta, pois também é verdade que este governo não está autorizado a falhar."
Por: José Manuel Fernandes
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