sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O Tomate

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Agosto é um mês desrespeitado. Neste primeiro terço, o mar tem sido como uma segunda pele, líquida, que nos arrefece e sustém. Só ontem comemos as primeiras sardinhas que sabiam a sardinhas e não a outros peixes inferiores e magricelas, como arenques e anchovas fumadas. O tomate, depois de meses de angústia, desfaz-se em sabor de tomate, como fruta sumarenta, cujo sumo, casado com azeite e vinagre, é melhor do que o melhor dos gaspachos. Ou, com a soma sábia de fracções de pepino, equidistante da delícia do mais fino arja-molho algarvio ou do mais austero gaspacho norte-alentejano. No domingo, comprámos e comemos, pela primeira vez, capuchos frescos – fisálias –, que são uns berlindes meio-tangerina e meio-cheiro-de-vinho-de-taberna, centrados num envólucro de geometria fractal. Conhecíamos o doce feito nos Açores – o melhor é o da magnífica Corretora, que conserva também os melhores atuns –, mas foi interessante verificar que o fruto fresco, sendo apetitoso, não é tão bom como o doce. Ou talvez seja. Mas naquela margem de dúvida que também afecta a diferença entre o tomate e a ginja e os doces de tomate e de ginja (ou a ginjinha): discutível e antinatural, favorecendo mais a intervenção humana do que a invenção divina. Para não falar nos pêssegos-rosa de Colares que estão a dois ou três dias de atingir a perfeição. Ou das primeiras uvas de Santarém e de Setúbal, que já espantam de acidez e de polpa. Desfruta-se bem, Agosto.

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