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"Vou escrever com gosto sobre o acontecimento da semana, Futre. A minha memória dele representava-o ainda rapaz, exercendo aquilo que mais me atrai no futebol: um artista movido pela mais assassina e ingénua das intenções que é sentar o adversário na relva. Esta semana, ele reapareceu-me com ar de Robert De Niro, cara de homem. Estranhamente, quase toda a gente o viu reaparecer com ar de Roberto Benigni, o grande palhaço italiano - as gargalhadas que se dão para aí, os vídeos a repassar nos programas televisivos, tudo à custa de Futre... Eu também me rio, mas para mim, com o disse, é mais De Niro. Este tipo, Paulo Futre, merece mais do que gargalhadas. Talvez aquelas ideias de refinanciar o clube - um departamento só para o chinês, os charters a desembarcar hordas vindas de Pequim, com o Sporting a sacar comissões nos museus e restaurantes - fossem chumbadas numa auditoria do Banco de Portugal. Mas nos tempos que correm até Paul Krugman, Nobel de Economia 2008, é arrasado em conversas de café no Montijo. E não é Futre, o génio das finanças, que me interessa. Gostei de ver um homem empolgado e convicto. Estou farto de cágados que nunca se atropelam a falar, não porque tenham o discurso límpido mas porque estão a calcular o que não devem dizer. Nunca votaria em Futre, mas gostaria de beber uma cerveja com ele - que é coisa que nunca faria com muitos dos que me pedem o voto."
Ferreira Fernandes, DN
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